A felicidade pode ser cientificamente medida, afirma antropóloga


O interesse da ciência pela felicidade é crescente, o que fica evidente pela quantidade de artigos publicados em revistas científicas. Somente nos últimos seis meses, foram divulgados 27.335 estudos, abordando desde aspectos bioquímicos a psicológicos.

O assunto foi abordado nesta sexta-feira (20/11) pela manhã, durante a palestra de encerramento do 6o Encontro Cultivando Água Boa, no Hotel Rafain Palace, em Foz do Iguaçu, ao ser anunciada 5a Conferência Internacional sobre Felicidade Interna Bruta (FIB), que será realizada no mesmo local até a próxima segunda-feira (23).

A palestra foi ministrada pela antropóloga e psicóloga formada em Harvard (EUA) Susan Andrews, que vive no Brasil desde a Eco 92. Atualmente, ela é responsável pela divulgação da metodologia do FIB (Felicidade Interna Bruta) no Brasil e coordena o Parque Ecológico Visão Futuro em Porangaba, no interior de São Paulo.

Segundo ela, comprovadamente, pessoas mais felizes têm sistemas imunológicos mais fortes, têm melhor desempenho no trabalho, adoecem menos, vivem mais, têm casamentos mais sólidos. Por outro lado, a depressão se tornou uma das principais doenças da sociedade contemporânea. São esses os principais fatores que têm motivado a investigação científica, uma vez que o maior conhecimento sobre o que constitui a felicidade e como medi-la permitirá construir políticas mais eficientes, com reflexos positivos sobre a saúde pública.

O primeiro questionamento daqueles que tomam contato com o conceito de FIB, normalmente, é sobre como é possível medir a felicidade, que é algo bastante subjetivo. Na bioquímica do corpo humano, uma das substâncias associadas à felicidade é o hormônio cortisol, secretado pelas glândulas suprarrenais. Pessoas felizes tendem a ter 32% menos cortisol. Em contrapartida, o hormônio é encontrado em abundância em pessoas com alto nível de estresse. “É preciso ter consciência de que quando uma pessoa está infeliz, seu fígado está infeliz, seu estômago está infeliz, sua pele está infeliz. Os reflexos negativos se espalham pelo corpo inteiro”, afirmou Susan.

O conceito de FIB surgiu no Butão, na Ásia, como proposta de medir o bem-estar de forma mais ampla do que o PIB (Produto Interno Bruto), comumente utilizado para mensurar o progresso material de uma nação. O prêmio Nobel de Economia Joseph Stiglitz afirma que, entre os economistas, são muitos os que criticam o PIB como índice de prosperidade.

Na sociedade de consumo atual, é comum a ideia de que o acúmulo de bens materiais é garantia de felicidade. Mas a ciência tem comprovado o contrário, garante Susan. Sem dúvida, em situações que vão desde um estado de miséria absoluta a uma condição econômica que permite alguns luxos, uma melhoria financeira é diretamente proporcional à felicidade. Mas, uma vez que as necessidades básicas são satisfeitas, novos acréscimos em bens materiais não significam aumento de felicidade. Prova disso é que a população norte-americana triplicou sua riqueza nos últimos 50 anos, mas a população está mais infeliz, o que pode ser comprovado pelo aumento do número de suicídios, casos de depressão, divórcios etc.

A razão para isso, afirmou Susan, está na capacidade de adaptação do ser humano. É o caso, por exemplo, de quem compra um carro novo e se delicia em dirigi-lo por algumas semanas. Depois disso, vira rotina. “Uma vez que as necessidades materiais são satisfeitas, o aumento da felicidade depende de outras condições, tais como o carinho, o afeto, o companheirismo, a compaixão, o sentimento de pertencer a uma comunidade”, exemplificou Susan.

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